sábado, 26 de julho de 2008

DAS MINHAS BEBEDEIRAS...


Manifesto de saco cheio

Estou farta desses roqueiros bonitinhos engomados. Desses burgueses revoltadinhos, com seus ricos instrumentos devidamente polidos e valiosíssimos, afinados no tom exato da audiência... Estou farta desses roqueirozinhos modais com seu jeito contido e co-medido de fazer gritaria fosforescente - muito bem ensaiados - ao microfoníssimo...

Estou farta dessa gente serial, dessa arte modelar... Farta desses tipos montados... Argh! Estou farta; De toda essa bancada constituída de sentimentos genéricos! Farta dessa fúria muito pouco original... Desses top-sucessos "reciclados" (para usar uma palavra bem ecológica e, vamos dizer, politicamente mais correta...).

Diabos hibernais! Estou farta desse positivismo hipócrita! Farta dessa mixórdia! BASTA! Pouca coisa me enoja tanto quanto essa chusma enrustida!

Vaias! Eu quero pra mim toda vaia que eu puder arrancar... Até o último silêncio engasgado de susto... Até o último pulmão sufocado... Até lamber os tímpanos!

Estou farta dessa gente que não quer envelhecer, farta desse fisiculto capitalista, desse engarrafamento desenhado a bisturi! Estou farta desse cineminha "pós-new-old" com pipocas... Desse atum light em película ômega-3! Estou farta dessa música seca... Farta dessa Paixão Segundo São Superficial... Farta dessas festas... Dessa falta de vontade... Estou farta de nada mais orgânico... Farta de nada mais caustico... FARTA!

Estou farta desses novos talentos enfiados... Farta desses jornalistas, farta dessas perguntas, farta desses fotógrafos, dessas tintas, dessas texturas, tessituras e obras de arte e contrarte moderna... Desse discursinho canalha infalível...
Estou farta de tanta ótica... Farta dessa imparcialidade... De todos os sentidos distorcidos...
Estou farta dessa democracia maldita! E de tudo o que nem é possível exprimir em uma única e desgraçada existência ortografada impune... Mil vezes écaght!

Estou farta desses intelectuais!
De todas essas tribos dentro e fora dos botões...
Não me viram!
(Deus! Estou farta dessa música...)
Será que nada mais é imprevisível?

Estou cheia de tudo isso que há por aí... Fechando a vácuo o panelão gosmento... Como se nada mais existisse... Como se tudo o
mais fosse tão desimportante... Como se nada mais fosse correto... Como se a ARTE tivesse que ser correta... CORRETA?! ... Vamos e viemos! Eu estou de saco cheio sim e disso eu não tenho a menor dúvida!

Talvez você seja um desses que me embrulham o estômago... Eu aviso, não venha me pedir para autografar... Ou talvez você seja outro guerreiro errante como eu, querendo ver alguma coisa acontecer... Não, não vou fazer isso; Não vou mesmo! Não há tempo para filosofias catartróficas... Mas eu tenho que dizer e talvez você concorde, que a juventude dos meus pais foi muito mais líder do que a minha, e essa juventude que vem aí, do filho que eu nem tive, (e, diga-se de passagem, não terei parido para esse mundo inópio) essa geração está saindo muito mais lerda do que qualquer outra!
Quero dizer que é essa gente aí que está vindo com esse papo de Roqueiro-Tipoassim... New-metal, New-rock... Mas por favor! Que chamem isso de qualquer outra coisa, ok, a gente aceita... Só não venham engrupir que é New-Rock N' Roll! E por favor, não me venham com essa de new-JAM-raíz!
(AHRG!... hoje em dia... nunca estamos seguros...) estou arrancando os cabelos, eu juro!

Bem, não estou aqui falando mal de ninguém. Eu jamais diria que são incompetentes. Não, pelo contrário, são sim bem competentes no que fazem. E é bom mesmo que o façam bem feito, com a competência merecida... Aliás, incompetente sou eu! Eu, que não consigo engolir esse tal de mundo "moderno"... Onde alguém precisa abraçar o embargo de promover satisfação ao tipo de desejos de consumo frenético da massa, da galera, da "craude"! ... (brasa mora?!)

Na verdade, não é que eu não entenda, mas sou no mínimo idiota por não aceitar fazer parte disso, já que o lugar comum é sempre mais bem pago... Pois é, eu só posso concluir que eu não dou pra isso; enquanto que eles... Dão perfeitamente! (não me entendam mal) Eles efetivamente dão! Têm que dar... Eles são o Hors-concours do "Chá-com-pão"... E ainda acham bonito! O que é que se pode fazer?! Só me resta ficar pasma...

Eu os admiro por isso!

Mas, se quiserem falar de música comigo, e é isso o que quero dizer, porque para mim todo esse empenho demonstra uma forma competente de fazer-se incompetente!

Não sei se você reparou, mas eu tenho percebido uma atitude conformista demais sendo duplicada desordenadamente!
Preferem reproduzir ao invés de contribuir.
Preferem repetir à inventar algo novo.
Seguir ao invés de construir e descobrir uma História...
Pois, para mim estão jogando no lixo o que têm de mais precioso... Que talvez eu mesma não tenha... (essa facilidade...).

A diferença é que há coisas remediáveis e coisas lamentáveis... E "a pobreza de espírito - como já disse alguém inteligente - é a única que não tem remédio". Sendo assim me parece que técnica e músculo a gente desenvolve... Talento... Bem, talento não se discute; Ou você tem, ou talentíssimo! Desde os incontáveis... Todo mundo explica que se você AMA fazer uma coisa... Está aí o seu dom. (e ponto final)

(... cada um é livre pra gostar de fazer o que quiser)
Ora, estou farta dessa arte de vitrine, dessa arte de porcelana, de vontades frágeis e dores voláteis... Estou farta dessas notas amenas, dessa poesia bairrista, dessas vozes conhecidas desses tons diapasados corretamente. Repito: corretamente! ... rhaig! De toda essa coisa que soa hermeticamente familiar!
Estou farta de um mundo onde quase tudo é lamentável e já não se pode suportar artistas-marionete atuantes da arte-mór do engodo que se instalou... Estou farta mesmo dessas personagens dispostas pusilânimes, coniventes dessa arte que não se atreve, que não se arrisca, que se resguarda, que não se expõe... Ora isso não é ARTE! Não é senão arte-miúda... Indigna! Não! Não é arte!

Eu quero a arte de improviso!
Quero a música que se remenda e se refaz... Que nunca se termina!
Quero a Arte... Que nunca está completa!

Eu quero a voz das negras putavéias... Dos negros magros famintos...
Quero a voz dos pobres boêmios ressecados acometidos de rouquidão, câncer, e cirroses hepáticas.
Eu quero a voz dos brancos descascados
Dos psicodélicos...
Dos moradores de rua
A voz do morro, das cadeias...
Das cadeiras elétricas!
Quero a voz dos banheiros de apartamentos...
Dos traqueostomados...
Dos casacos de pele arrancados vivos!
Das moscas
Dos porões dos manicômios
Do lixo hospitalar
E de quem sente FALTA!
Eu quero o grito dos trens do suco de carne...
Eu quero a voz do sangue
Da cruz
A voz que vem dos ossos, dos dentes, das fogueiras, dos cabelos, do cu!

Eu não quero saber de outra arte que não seja livre, totalmente livre... E que não pertença à coisa alguma de que se tenha notícia! Porque eu também tenho fome! E minha voz não é outra senão a dor rasgada de um grito ao mesmo tempo rebelde e preguiçoso... Mas sempre pungente! Que pinga – pelo amor de Deus - das minhas tripas... E escorre pela minha garganta até a caixa de ressoná-la assim desentranhada... Toda! Intestinal!

Estou farta desses pedidos de desculpas, de todo esse cinismo simplista... Eu não quero saber desses verbozinhos chapados... Que não convencem a não ser uma porcaria de consumidores medíocres - e no máximo! Muito embora, e isso eu garanto, são eles de exímia competência, sim! E sem dúvida uma necessidade providencial, diria até execráveis... (azar! Eu posso dizer o que quiser) Estão prontinhos para a fama tal como biscoitos saindo do forno para o mercado!

Ora, quem sou eu...
Quem sou eu para dizer tudo isso?
Sou um pobre ignorante! Abrindo o verbo inconscientemente... Sofrendo do romantismo que resta como última ciência à gente pequenina... Gente arrogante ridícula! Em sua personalidade burra... Burra! Como sou burra... Cheia de frases e teorias... Deflagrando discursos a respeito de um assunto que mal pode apreciar... Se soubesse, estaria cantando. Se soubesse estaria tocando. Se entendesse ou sentisse ou soubesse ... estaria compondo. Não estaria escrevendo estas páginas... Imbecil. Sou eu. Sim eu sou pobre. Sim! Sou ignorante, mesquinha, ridícula... Sou burra! Sei que sou.
Todavia, se quiserem vir falar de Música comigo; Precisam estar preparados para o Escárnio
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kisstangerina.

XXVII
Com carinho a Ricardo Maurício.
BigBass que festeja comigo tudo iss...

11-08-05
17h33min
qint-f. últ.nov.

4 comentários:

Urbano Leonel Sant' Anna disse...

Por esta, eu estava esperando ansiosamente! Com licença, retirem as crianças da sala, juntamente com aqueles que tem coração e/ou cérebro fraco.

"Manifesto de saco cheio"

SEN-SA-CIO-NAL!!!

Essa eu queria ter escrito!
Mas o máximo que eu consegui na hora da raiva foi um tímido

"Abaixo a arte crítico-modulada!".

Assim desse jeito que está aí...
Uma mísera frasezinha.
Acho que me faltou culhão...
Mas (pasme!) em ti sobrou!?

Como cantaria a Rita Lee, "Ai, ai, meu Deus! O que foi que aconteceu com a música popular brasileira?"
Falta criatividade. Falta sensibilidade. Falta verdade.
Uns fazem uma melodiazinha bonitinha e acham que a letra é secundária.
Santa ignorância!
Perdoai-os Chico Buarque! Eles não sabem o que fazem.
Outros pegam um hit internacional e fazem aquelas famigeradas versões. Arrghhh!!!
Perdoai-os Gilberto Gil! Eles não sabem o que fazem.
Outros simplesmente roubam descaradamente a obra dos outros...
Nem vou falar de funk de Miami, rap sem ritmo e sem poesia, pagunda (pouco samba e muita bunda), sertaneja que não tem a mínima noção do que é sertanejo de verdade, reggae que faria o Bob se revirar eternamente na cova e tantas outras merdas que andam por aí.
E ainda me vêm aquela marrenta da Ana Carolina dizer no Programa do Jô que deu uma "desencaretada" no Cartola!
Ora, tenha dó! "Desencaretar" o Cartola!? E foi bem numa época em que eu estava querendo começar a gostar dela...
Grandissíssima besta, achando que poderia usar logo o grande mestre do samba como degrau. Não deveria ter usado ninguém! Mas com esta conseguiu cair todos os degraus no meu conceito. Se é que isso tem alguma importância...

Fartos estamos os dois e mais uns poucos que ainda pensam com a própria cabeça!

Abaixo os intelectuais de merda!
Arriba la verdad! (Se é que há... Esteja onde estiver...)
Abaixo os rótulos! Afinal, a quem servem? A nós é que não!

"A voz que vem do... cu"?
Essa foi a melhor!
E não me venham com piadinhas escrotas...
.... "A voz do cu é o peido! hehehe" (risadinha idiota na boca de um completo débil mental)
Não, suas bestas quadradas!...
É a voz que vem do mais profundo das entranhas!
Quantas vezes ouvi dizer que Janis Joplin cantava com o útero...
Não seria um eufemismo pra dizer que ela, como num orgasmo, cantava com a buceta?
Não seria também esta a grande mágica de intérpretes da grandeza de Elis Regina?
E a Jaqueline Barreto que, quando gosta muito de uma interpretação, diz que arrepiou "até os cabelinhos de lá"...
Com o que ela canta?
Cantar não deveria ser tão intenso e verdadeiro como fazer amor?
Não é uma grande performance no palco, quando bem recebida, como fazer amor com todo aquele público?
E o ápice da canção não seria um grande orgasmo simultâneo entre quem canta e todos aqueles que escutam?

Só sei que agora tenho medo de tentar falar de música contigo...

Coitadinhos dos caras pra quem escreveste este manifesto!
O que será que eles te disseram pra provocar a erupção deste vulcão de inconformismo?

Ai, ai, ai...
Estou apaixonado outra vez...
Se te pego de jeito...
Acho bom correr, ovelhinha! (rsrs)

Belíssimo manifesto!

Cada vez te adorando mais,

Bano

Anônimo disse...

OI. Muito bom!

Urbano Leonel Sant' Anna disse...

Kiss, meu anjo!
Estou sentindo falta dos teus escritos.
Onde andas?
Te adoro!
MILLE BACI E ABRACCI!!!

Urbano Leonel Sant' Anna disse...

Já ia esquecendo...
Sobre o teu recado no MSN: eu estou muito curioso com relação à tua idéia! Estava esperando pra responder por MSN, mas desapareceste...
Na verdade, também tenho uma idéia que surgiu no tempo em que trocávamos textos por e-mail e que agora retornou com a criação dos nossos blogues. Será que são parecidas as nossas idéias!?

A última: a minha série de artigos sobre o Cartola não vai mais sair na extinta MusZine. Está sendo publicada na revista Proarte. Se quiseres, envio pra ti um exemplar por e-mail.
Ciao, amore!