segunda-feira, 14 de julho de 2008

Minha Vida

Escrevo
Escrevo para sobreviver
Escrevo por mim e para meu bem
A literatura tira de mim o pesar de viver
Me alivia das saudades...
O papel toma para si minhas perdas
Que nele despejo tudo!
Tenho um sentimento especial
Por todos aqueles que não se escrevem
Porque são mais fortes do que eu
E sofrem mais consigo
Gostaria de ter palavras que os escrevessem
Assim me sentiria útil
Se minhas palavras pudessem aliviar a outrem...
Mas não acredito nisso
Não com mesma intensidade
Sem escrever eu já teria morrido
Escrever me fortalece
Me redime
Tantos erros deixei de cometer
Pelo simples fato de escrever um pedaço de papel
Antes de fazer o telefonema que nunca fiz
Por isso metade de minha vida é o papel
As palavras são minha outra vida
São os anos de vida
Que não aparecem na minha cara
Vivo quando escrevo
Estou vivendo...
Uma vida íntima eterna
Jamais posso alegar minha solitude
A maior solidão que sinto
É um sublime encontro
E se tirarem de mim, minha vida
Estarei morta, certamente

Tenho muitas vidas assim
E assim terei minhas mortes

Minha voz é minha vida!
Ela precisa acontecer de seus desejos
Viver no papel
Nos palcos
Nas personagens e nas canções
Nas histórias que padeço e vivo
Onde estiver...
Canto
Canto para sobreviver
Canto por mim e para meu bem
Se não pudesse cantar eu já teria morrido
Afogada em meu próprio extravasamento!
A música tira de mim o pesar de viver
Me afasta das saudades...
A melodia toma para si minhas perdas
Sinto um apego delicadíssimo
Por todas as vidas que não se cantam
Porque são mais serenas do que eu
E sofrem simples consigo
Gostaria que minha voz pudesse justificar
Todas as vozes que me escutam
Assim me sentiria útil
Se minha voz pudesse cantar a outrem...
Mas desconfio
Ao menos em parte
Dessa intensidade
Sem cantar eu já teria morrido
Cantar me acalma o espírito
Me transforma
Tantas vezes me protegi
No escudo das canções
E tantas vezes declarei minhas paixões
No anonimato de meu canto
E sofri aliviada
Adormeci incólume da confissão
Por isso metade de minha vida é o que canto
Meu canto é minha outra vida
São as marcas dos anos que não aparento
Vivo quando estou cantando
Estou vivendo...
Uma vida íntima eterna
Jamais poderei sofrer o abandono
Minha maior solidão
É um sublime encontro
Com minha vida
Minha voz e canto
Meu instrumento precioso
E se tirarem de mim, minha voz
Estarei morta, certamente


Tenho muitas vidas assim
E terei minhas mortes

Me divido e me encontro
Dentro e permeando
De todas as personagens
Quem posso viver
Cada qual é minha outra vida
Posso amá-los e admirá-las e posso julgar-lhes porque sou eu
Então igualmente me vivem. Experimentam
E me deixo entregue completamente a sua vida
Porque é a minha vida
E são eu
Com eles me apresento
Na segurança lúdica do encanto
No mistério eterno e mágico da cena
Protegida na dúvida tênue da ação
Que só eu sei
Onde estou
Dentro em cada ato...
Atuo
Atuo para sobreviver
Atuo por mim e para meu bem
O teatro tira de mim o pesar de viver
Me renova das saudades...
O palco toma para si minhas perdas
Guardo um amor terrível
Pelas personas que não se representam de si
Porque são melhores do que eu
E suportam conviver consigo
Obrigadas a sustentarem seu peso
Sem nunca imitar-se em outra vida!
Gostaria de personificar todas as fugas impossíveis
Em cada ato e palco que me faz viver
Assim me sentiria útil
Se eu pudesse representar e expurgar a angústia
De quem viesse me assistir...
Mas não tenho fé nessa vontade
Não com toda minha intensidade
Sem atuar eu já teria morrido
Tantas vezes me salvei sem orgulho
Mas por bom senso, nas mãos da performance...
Por isso metade de minha vida deixo no palco
Metade de mim vivo no palco!
E se tirassem de mim o teatro
Eu já estaria morta
Porque o teatro é minha vida
Também
Junto com a vida
No teatro eu vivo intensamente
Tudo aquilo que os anos não me aparecem no corpo
Meus personagens sofrem as dores
Que não aparecem na minha pele
Assumem as rugas da minha alma
Vivo quando me represento em papéis
Estou vivendo...
Uma vida íntima eterna
Todas as vidas
Jamais estarei sinceramente perdida
Enquanto puder me encontrar
Em tantos pedaços de mim
Pois o maior abandono que sinto
É um sublime encontro
E se tirarem de mim, o teatro
Estarei morta, certamente

Por isso tenho tantas vidas
E assim terei minhas mortes

Eis porque carrego tudo isso
Com respeito inabalável
Pois é minha vida que apresento
É pedaço de mim que lhe entrego
Cuida! Que podes me ferir!

Eu deveria dizer isso
Com todas as vozes do mundo...
Porque há de ser a própria vida
A arte
É meu espírito
Quando ela acabar em mim
Cairá o meu corpo
E serei apenas o sonho
Do que sempre quis ser


Kisstangerina.

Domenega, 13.07.08
13h31min
unesul = poa-gdi

Nenhum comentário: